Há duas semanas, mais ou menos, comecei a ser seguido no twitter pela nanocervejaria Duas Cabeças. Com o lema “Duas Cabeças pensam melhor do que uma”, eles fomentaram uma curiosidade nas redes sociais entre os blogueiros e aqueles que acompanham a cena cervejeira de perto. Quem seriam aquelas pessoas? Qual o objetivo disso tudo?
Morfologia
Não sei. Não faço a menor idéia do que eles querem. Aliás, se contarem, estraga a graça. Eu fiquei pensando naquilo que escrevi há um tempo atrás, sobre o ‘amadorismo’ das microcervejarias (apud Bittencourt) e consequentemente no que um amigo meu me disse muito tempo atrás, de que caso nosso bar ficasse muito famoso (como ficou) muita gente que não conhecemos começariam a frequentá-lo muito mais do que aqueles que conhecemos e perderíamos nossa segunda casa para o próprio sucesso dela (como quase aconteceu, realmente).
O que é uma microcervejaria? Não há uma definição no dicionário português (pode ir lá ver, não tem); possivelmente a única é esta, da Brewers Association:
A brewery that produces less than 15,000 barrels (17,600 hectoliters) of beer per year with 75% or more of its beer sold off site. Microbreweries sell to the public by one or more of the following methods: the traditional three-tier system (brewer to wholesaler to retailer to consumer); the two-tier system (brewer acting as wholesaler to retailer to consumer); and, directly to the consumer through carryouts and/or on-site tap-room or restaurant sales.
Mas, ao meu ver, é mais do que isso. Acredito que as microcervejarias não perceberam o potencial que possuem, tanto em termos mercadológicos quanto produtivos e até mesmo culturais, ou seja, como potenciais colaboradores importantes na história (gastronômica?) do Brasil. Quer dizer, a relação que elas podem desenvolver com os seus consumidores hoje em dia está subaproveitada.
Bom, voltemos aos bons exemplos antes de entrar com o pitaco. Admiro os bons homebrewers que conheço. A maioria tem uma outra profissão, mas manda muito quando se fala de brassagem, e outros começam a botar os dois pés na área, como é o caso de um amigo meu que recentemente conseguiu um trabalho na parte de fabricação da Cervejaria Nacional.
O Bernardo e seu sócio compõem a Duas Cabeças. Eles que fizeram essa Black IPA aí de cima, uma breja mais refrescante e gostosa do que muitas existentes no mercado – se você quiser saber mais/provar, entre em contato comigo. E se aproveitaram da inexistência dessa cerveja no mercado que vão começar a vender logo mais, além de terem criado todo aquele fuzuê no twitter e facebook. E é assim que se criam fãs, novos consumidores, abrem-se portas em novos pontos comerciais: com criatividade, um bom produto, habilidade e preocupação.
Lógico, não há uma receita certa. Mas acredito que para uma micro/nanocervejaria se darem bem, é como brassar [= fazer] cerveja: há indicações e estilos, mas você faz o que quer como puder, diabos!! Não condeno de maneira alguma, a Bodebrown por não querer expandir muito sua produção, temendo que perca o caráter “experimental”; tanto como não condeno a Bamberg por só querer fazer cervejas da escola Alemã à risca, por exemplo.
Só acho que eles podiam intensificar essa experiência. A cervejaria que em termos de marketing e tudo mais, que sempre tomo como exemplo para muita coisa – sem puxação barata de saco, mas vamos lá – é a Colorado: O rótulo da Vixnú foi criado com pitacos diretos dos consumidores, por meio do twitter, e-mail, telefone, facebook e quiçá sinal de fumaça. Equiparável há várias americanas, mas é um futuro para todas brasileiras, muito plausível. Eu acho.